Testemunhos


De Fausto e Mefistófeles ao Edifício 20, no dia do Candidato

Gosto de contar histórias. Este ano, na recepção aos candidatos a esta Faculdade, contei duas – a de Fausto, o que vendeu a alma ao demo, e a do “Edifício 20”, o incubador de sumidades. Que só conectei no fim.
O tema de Fausto remonta, tanto quanto se supõe, às lendas germânicas de tradição oral ainda vigente no século XVI. O Fausto de Marlowe e o Dr. Fausto de Goethe são os mais conhecidos na versão escrita, mas há muitos mais. O tema é propício. Entre nós, Fernando Pessoa reabriu-o numa versão infelizmente inacabada que nunca li, mas que sei apreciadíssima entre os literatos, o que não é o meu caso. Fausto (ou Dr. Fausto) é quase invariavelmente um erudito com uma enorme ânsia de sabedoria, para quem é claro que esta só se adquire à custa de muito esforço e sacrifício, e também de tempo, o qual lhe vai escasseando. Em desespero, Fausto invoca o Demónio, o qual incarna na figura de Mefistófeles. Fausto implora a Mefistófeles a satisfação do seu pedido de sabedoria ilimitada, acompanhada ou não de prazer e poder ilimitados, consoante as versões. De pronto, Mefistófeles avança um contrato a termo – ao cumprimento da promessa contrapõe a posse da alma de Fausto. E assim foi. A alma de Fausto desfrutou dos prazeres ilimitados do conhecimento ilimitado, e não esforçado (!),.... e entrou para a contabilidade do Inferno. O sucesso fácil não existe ou paga-se caro!
Construído em 1943 no campus do MIT em Cambridge, EUA, durante a 2ª Guerra Mundial, com o objectivo explícito de desenvolvimento do radar, o “Edifício 20” foi planeado numa única tarde por um arquitecto local. Com infraestrutura em madeira recoberta por placas de amianto, estava em desobediência total às regras de segurança, conforto e habitabilidade então vigentes; tinha o desenho de um armazém. Era de um desconforto pungente, com corredores mal planeados, muito quente no verão e muito frio no inverno. Ficou a promessa de ser demolido mal a guerra acabasse, o que só foi cumprido em 1998...! Durante a sua longa existência albergou investigadores de pelo menos trinta especialidades diferentes, desde a física à linguística, e da biologia, neurocomputação, sedimentologia, música, bioquímica à filosofia, tudo isto passando pelo desenvolvimento de novos plásticos e de tecnologia naval. No “Edifício 20” trabalharam 9 galardoados com o prémio Nobel da Física, entre muitos outros famosos, dos quais ressalto o linguista Noam Chomsky. O “Edifício 20” tornou-se uma referência mítica no mundo da ciência e tecnologia. Foi um case study. Nada no seu magro planeamento faria antever o tremendo sucesso que veio a ter. A análise do seu sucesso permitiu relevar dois aspectos predominantes – oportunidade e atitude. Os cientistas que o habitaram tiveram a oportunidade de contactar e interagir com investigadores de áreas muito diferentes da sua, e tiveram a atitude de aproveitar ao máximo essa oportunidade. Uma atitude de toda a curiosidade por tudo.  Os resultados falaram por si.
Numa época em que se pactua com excessos de facilitismo, deixei bem claro aos estudantes que a entrada nesta Faculdade de Medicina representa o início de uma construção pessoal de conhecimento e sabedoria, indissociável de incontornáveis sacrifícios e dificuldades, bem patentes no dilema de Fausto. Mas representa também uma abertura ímpar de oportunidades de expansão intelectual, assim se tenha a atitude correcta, como tiveram os habitantes do “Edifício 20”. Bem hajam os que aceitarem o desafio!

João Ferreira
Coordenador do GAPIC



O dia do candidato é um dia da divulgação, da imagem, de mostrar a nossa faculdade àqueles que garantirão o nosso futuro, mas não só, trata-se de conseguir divulgar quem somos e o que fazemos para todo o país através de quem nos visita neste dia. Este ano pude contribuir para o sucesso deste evento que considero de vital importância para a faculdade. Temos como obrigação cativar os melhores alunos, isto é, conseguir que aqueles mais dinâmicos, com vontade de ser e fazer diferente e que acreditam no seu potencial, concluam que temos disponibilidade para acolher as suas ideias e o seu trabalho.

Falar de investigação no mestrado integrado em medicina era o que me competia. Tenho dedicado algum do meu tempo à investigação básica no Instituto de Medicina Molecular e sempre fui da opinião, agora corroborada pela prática, que a Faculdade de Medicina de Lisboa é única, no país, na promoção e apoio da investigação junto dos seus estudantes. Sendo um subscritor convicto da ideia que a prática de investigação oferece enormes benefícios ao nível do raciocínio clínico, da inovação e da execução de projectos, participar no dia do candidato impôs-se como um dever, pela vontade que tenho em mostrar o que podemos fazer e o que fazemos de melhor.
Neste dia percebi que a faculdade tem que saber preservar o entusiasmo destes futuros alunos. Assim, tornar-se-á melhor através da pluralidade dos seus estudantes, e estes serão por certo melhores alunos e melhores médicos. Pensando nisto, disse-lhes que se dedicassem ao associativismo, ao voluntariado, à investigação e a projectos inovadores, disse-lhes que quem vier deve aproveitar as nossas infra-estruturas, mas sobretudo a nossa cultura e as pessoas que fazem a nossa faculdade. Foi esta a mensagem que transmiti, foi o meu contributo. 
Afonso Félix de Oliveira
Aluno do MIM


Na qualidade de membro da equipa organizadora deste evento, sinto que é gratificante o resultado do trabalho desenvolvido por uma pequena equipa ao longo de uns meses, para que a realização deste dia corresse da melhor forma possível.
É gratificante ainda, podermos contar com a participação de patrocinadores que nos têm dado apoio há já alguns anos; contar com a participação de alunos da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (FMUL) que acompanham os diferentes grupos de alunos inscritos para este dia às visitas programadas; contar com a participação de docentes da FMUL que partilham com estes alunos a sua experiência enquanto médicos e docentes da FMUL; contar com a participação de discentes que partilham experiências enquanto alunos que estiveram em mobilidade ao abrigo do programa ERASMUS; contar com a participação da Associação de Estudantes da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (AEFML) que partilha a história desta Associação bem como as atividades que por ela desenvolvidas.
São grupos de trabalho e projetos destes que nos fazem sentir vontade de continuar…

Lara Ponte
Membro da comissão organizadora




Já não é a primeira vez que tenho a honra e o grato prazer de colaborar no processo organizativo do “Dia do Candidato”, mas esta oportunidade de partilhar o meu testemunho é de facto inédita.
Vontade não me faltaria para iniciar um curto depoimento como este com as motivações para assumir esta missão, ou transmitir a recompensa que é a sensação de prazer proveniente de uma grande riqueza de relacionamento humano, ainda que no fim de um dia exaustivo.
Ao invés disso, optei por escrever umas escassas linhas sobre uma nova experiência que veio por acréscimo na edição deste ano.
De facto, a possibilidade de acompanhar um dos grupos no respetivo percurso surgiu como por acaso, mas viria a revelar-se uma aprendizagem muito marcante.
O envolvimento na fase de preparação dá-nos uma visão global deste acontecimento, contudo não nos permite vivenciar algumas etapas, como as visitas guiadas, por exemplo.
Acabei por ser integrado num grupo que visitaria dois locais muito interessantes - a Unidade de Desenvolvimento Embrionário de Vertebrados e a Unidade de Malária.
Antes de prosseguir, convinha desde já deixar claro que a minha formação académica não está relacionada com a atividade destas unidades. Logo, à partida, a minha opinião será razoavelmente isenta. Vejam-me como se fosse quase um estudante do 12.º ano a visitar a F.M.U.L. pela primeira vez… só que um pouco mais maduro.
Abstendo-me de referir o que quer que seja sobre a organização (por motivos óbvios), era importante evidenciar o impacto destas visitas decorrerem em locais onde acontece a investigação de cujos resultados, muitas vezes, apenas lemos em artigos científicos ou em notícias difundidas pelos meios de comunicação social. 
Do ponto de vista formal, ambas as visitas foram interessantíssimas, pois tive oportunidade de aprender factos relevantes e curiosos, não só sobre os trabalhos que estão a ser feitos nestas unidades, mas sobretudo sobre matérias de grande importância, como a biologia da Malária e do ciclo de vida do agente etiológico Plasmodium.
Não querendo favorecer nenhuma das Unidades visitadas, até porque me senti muito atraído pela primeira, devido a um dos meus passatempos, graças à forma como os visitantes foram (muito bem) recebidos, estas visitas guiadas constituíram uma parte do programa interessante e agradável.

Miguel Andrade
Membro da comissão organizadora




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